O Alienista – Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis quem elevou a prosa brasileira ao nível das melhores escritas do mundo. Sua obra não visa apenas à diversão ou à informação de valores morais, mas objetiva, antes de tudo, a investigação do espírito humano, universal, sem, contudo, afastar-se da realidade nacional. O texto machadiano, em verdade antecipa procedimentos modernistas e descobertas psicanalistas, evidenciando as mazelas humanas de forma ácida e irônica.”
Quis iniciar o comentário explicando um pouco sobre Machado para aqueles que ainda não conhecem suas obras ou sobre a sua vida.
Cada livro que leio de Machado me encanto mais com suas histórias e como cada uma delas tem um fundo de verdade e realidade sobre nosso país ou sociedade na época e porque não, nos tempos atuais.
Machado era um menino mulato, numa sociedade escravocrata, pobre, gago e de pouca instrução formal que apresentava todos os requisitos para o fracasso. Contudo, em vida recebeu honrarias devido a uma reconhecida e aclamada atividade literária e na esfera do serviço público.
Morreu em 29 de setembro de 1908.
Depois desta pequena explicação, vamos ao livro que simplesmente é sensacional porque é bem realista e ao mesmo tempo atual.
O livro beira a fronteira entre a normalidade e a loucura.
Quem é louco? É a pergunta que te acompanha até o final do livro.
Tem 82 páginas, preço muito bom para livro digital e diversos preços para livros físicos com várias capas que retratam bem a história.
A história se passa com Doutor Simão Bacamarte, um médico dedicado a estudar a mente humana que constrói uma Casa Verde, local onde levaria os doentes mentais da pequena cidade de Itaguaí.
Ele é casado com Dona Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de 25 anos, viúva de um juiz, feia e antipática, sem filhos, mas que juntos faziam um casal perfeito.
Seus amigos são Crispim Soares, boticário da vila e o barbeiro Porfírio que nada mais é do que a personificação do pessimismo machadiano, de sua filosofia que traduz o profundo senso do relativo: nada é absoluto, nada merece amor ou ódio.
Essa Casa Verde era um hospício onde aos poucos Simão leva as pessoas e começa a estudá-las com remédios adquiridos através de muita leitura.
Como fosse grande arabista, achou no Corão que Maomé declara veneráveis os doidos, pela consideração de que Alá lhes tira o juízo para que não pequem”.
Só que perceberemos que Simão coloca pessoas que não tem problemas ou distúrbios. Ele começa a conversar com as pessoas e quando elas se queixam de algum parente ou alguém, ele investiga e pede a internação.
As pessoas, a princípio, achavam o máximo e Simão começou a tornar-se importante e popular, inclusive, sua Casa Verde ficou tão em destaque que foi aprovada na Câmara da Cidade, onde recebeu uma verba para estudos e para sua manutenção.
O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhes os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal.”
Ele era tão dedicado que esquecia seus deveres em casa, principalmente como marido, chateando muito Dona Evarista.
Homem de ciência, e só de ciência, nada o consternava fora da ciência.”
Ele, inclusive, precisando de mais espaço sugere que ela vá para o Rio de Janeiro passar um tempo a fim de que ele pudesse estudar mais e cuidar dos doentes que agora eram muitos.
A cidade começava a comentar sobre as pessoas que lá estavam na Casa. Seriam todas loucas?
Simão dizia que sim, que precisavam de tratamento.
A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.”
Simão interna um amigo seu e tudo começa a fugir de seu controle.
A população pede a intervenção do Governador que nada pode fazer pois não reconhece algo errado lá e veremos a política entrando na história.
Aos poucos, a população elege um outro representante e um golpe é aplicado e um novo Governador entra e uma de suas primeiras ações é fechar a casa e soltar os “loucos” que lá estavam e tudo vira uma bagunça e você não sabe mais de nada.
A história fica sensacional e Dona Evarista chega do Rio de Janeiro e vê seu marido diferente e transtornado e ao tentar convencê-lo a parar com tudo vai para a Casa Verde internada.
O novo líder Sebastião Freitas dizia:
Nada tenho que ver com a ciência; mas se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?”
“Um homem não podia dar nascença ou curso à mais simples mentira do mundo, ainda daquelas que aproveitam ao inventor ou divulgador, que não fosse logo metido na Casa Verde. Tudo era loucura.”
Um livro fantástico que vai te abraçando e o final chega com um contexto incrível que vale a pena ler e trazer a história para os dias atuais.
Machado conduz uma história surpreendente e mostra ao leitor que tudo é relativo e que a normalidade nem sempre é aquilo que a ciência e os fatos atestam de forma absoluta.”
Assim encerro este comentário porque Machado, só lendo para entender.
Até o próximo comentário.