O Fim da Noite – Rafael Calça e Diox
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Vamos encerrar a semana com uma dica de leitura para o final de semana que vale muito a pena.
Um livro maravilhoso com 80 páginas.
A capa é simplesmente linda e suas cores te prendem. As ilustrações nas páginas são fantásticas. A história emocionante fez valer cada centavo gasto. Apesar disso, ele é caro.
O livro é um grafic novel como se fosse em quadrinhos só que em preto e branco.
Foi vencedor na categoria Quadrinhos da primeira edição do Prêmio Machado DarkSide em 2020 com o projeto abraçado pelos criadores brasileiros que foi escrita por Calça e ilustrada por Diox participou com mais de 5 mil projetos onde agora faz parte da marca DarkSide® Graphic Novel.
Os dois autores mereceram todo o esforço, e atualmente estão entre os principais nomes dos quadrinhos brasileiros contemporâneos.
Rafael Calça é paulista e roteirista, quadrinista e em 2013 publicou a HQ Independente Dueto. Além disso, participou de projetos envolvendo a Turma da Mônica e publicou, em parceria com Jefferson Costa, “Jeremias – Pele em 2018”, obra vencedora dos prêmios Angelo Agostini, HQ MIX e Jabuti e Jeremias Alma em 2020.
Diox também é paulista, atualmente trabalha para o mercado editorial, ilustrando livros infantis e materiais didáticos, além de contribuir com o universo dos games.
Após conhecermos um pouquinho dos autores vamos ao livro.
Ele começa em 1940 com Aurora, uma criança chorando. O pai dela estava nervoso e pediu para que a mãe a fizesse parar. Ele estava doente e preocupado que ela pegasse a doença dele.
Todos eram negros e pobres.
Já em outro momento, ambos falecem de tuberculose. Isso deixa Aurora com aproximadamente 7 anos. Ela fica órfã e vai viver com os patrões brancos. O chefe da família não gostou muito da ideia.
Neste ponto já percebemos um certo preconceito.
Damos um salto para o ano de 1946. Vemos Aurora com 10 anos. Ela aparece numa cena como empregada, trabalhando na casa de família.
Aqui os comentários dos brancos são inacreditáveis, carregados de preconceito enraizado na sociedade da época.
Em 1956, Aurora é uma jovem sofrida e batalhadora. Ela conhece Jonas, um alfaiate encantador, que oferece um lindo tecido como forma de galanteio. No entanto, Aurora não fica muito convencida e retorna para seu trabalho.
Chegando lá, uma cena acontece. A sua patroa faz um “teste” com ela. Mais uma vez fico revoltada com a situação.
O mais interessante no livro é que as fisionomias dos desenhos retratam o sofrimento de Aurora. Elas também mostram a alegria dos patrões, realmente deixando as cenas do livro bem realista.
1958 chega com o casamento de Aurora e Jonas e quem sabe a felicidade.
Em 1960, Jonas perde o emprego. O país está em verdadeiro caos com uma grande crise econômica e política. Ainda assim, encontramos Aurora com sua filha Rute, rodeadas pela bebedeira de Jonas. Ele é violento, tornando suas vidas infelizes e pobres.
A dificuldade faz parte da vida de Aurora e Rute.
1962 Jonas aposta a única coisa que eles tinham e a vida não poderia ser pior para esta família infeliz. Tudo estava em ruinas.
1966 Jonas falece e Aurora precisa tomar conta de Rute e ao arrumar um trabalho, Rute torna-se um empecilho.
Aproveitando-se desta situação, a patroa de Aurora decide algo. Estamos em 1967. Ela convence Aurora a mandar Rute para um lugar onde as freiras dariam casa, comida e educação para a menina. Seria uma saída?
De 1978 a 1983, a vida passa com um país lutando contra o desemprego e preconceito. Policiais nas ruas matam e batem nos negros. O governador Montoro não dá uma solução para tantos problemas na cidade. Há manifestações e miséria. Aurora sofre de todas as formas e, além disso, Rute está grávida. Novamente, a morte ronda essas mulheres fortes e guerreiras que vivem um dia de cada vez.
Mesmo na dificuldade, Aurora consegue que sua filha se forme. Ela se torna uma professora. Sua neta chega cheia de vida e vira uma mulher que continuará a luta destas mulheres. Ela também continuará a luta de tantas outras espalhadas pelo mundo.
Assim, acompanharemos a vida delas que lutam por seus direitos. Elas sofrem violência, racismo e preconceitos. Elas querem uma vida melhor. Elas também desejam que os novos governos tirem as propostas do papel e as coloquem em prática.
Aurora, Rute e Vitória (a neta) seguem o destino para uma vida melhor e direitos iguais.
Um livro sensacional que vale a pena ler. Percebemos que não foi fácil para Aurora e depois para sua família. Porém, a vontade de vencer e a perseverança foram mais fortes. No final, valeu a pena.
Diante de todo o contexto, cada um dos autores contou resumidamente a sua história. Eles compartilharam a sua verdade de forma linda e verdadeira.
E sem mais palavras para um livro forte e muito atual encerro o comentário com a seguinte frase:
A História é feia, é violenta, é cruel, e os pretos são obrigados a conviver com ela até hoje
Um ótimo final de semana!
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