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O Crime do Padre Amaro – Eça de Queiroz

Este livro foi indicação de alguns leitores que pediram minha opinião sobre esta história incrível, que confesso, não tinha lido ainda.

Se deseja ver o livro comentado aqui no blog, deixe nos comentários que assim que possível trago para vocês.

Neste caso, o preço está excelente para livro digital, tem várias versões em capa dura, também com preços ótimos e 457 páginas que me assustaram inicialmente.

Só que ele é tão incrível que nem senti a quantidade de páginas, até queria ler mais.

Ele foi escrito em 1871, lido a alguns amigos em 1872, e publicado em 1874 com algumas polêmicas contadas antes da história.

Conheceremos Amaro, um homem que foi ordenado padre dentro de circunstâncias que ele odiou a vida inteira.

…o seminário dava um antegosto do céu: a ele só lhe oferecia as humilhações duma prisão, com os tédios duma escola.”

“Nunca fora querido das devotas: arrotava no confessionário; e, tendo sido sempre em freguesias da aldeia ou da serra, não compreendia certas sensibilidades requintadas da devoção.”

Amaro Vieira ou Padre Amaro foi indicado para uma cidade substituir um padre na cidade de Leiria.

Conseguiu este posto, pois sua irmã estava casada com um Conde que o tirou de um local pequeno e horrível e o transferiu para uma cidade maior e melhor.

Ficou hospedado por um tempo na casa da respeitada S. Joaneira que tinha uma linda filha adolescente chamada Amélia.

Lá reuniam-se as beatas da cidade, amigas e padres para conversarem, comerem e ouvirem uma boa música.

Aos poucos, um amor cresce no coração de Padre Amaro e de Amélia e a história fica cheia de nuances interessantes onde a religião em vários momentos é deixada de lado e ao mesmo tempo questionada por ambos.

Naquele lugar, Amaro percebe que a política e a Igreja são parceiras em alguns momentos e veremos os padres fazendo coisas e escondendo segredos do Papa, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Entre encontros secretos temos um personagem que desconfia de Padre Amaro e Amélia.

Este é João Eduardo que sempre gostou de Amélia e num ato de desespero, faz o pedido de casamento para ela, porém recebe um não como resposta.

A explicação para esta negativa é porque ele escreveu para um jornal local falando mal da Igreja, do poder que ela exercia.

Repercutiu negativamente e uma caça às bruxas começou principalmente pela Igreja que viu seu poder ameaçado.  

Depois de alguns horríveis acordos políticos, João Eduardo foi excomungado e expulso da cidade.

Padre Amaro vibrou com esta vitória e perceberemos que ele é bom em alguns momentos e em outros é muito mal, manipulador, em suas conversas cita a volta da Inquisição e certos castigos para aqueles que blasfemam contra a Igreja, eu diria, um articulador.

…já antes de fazer seus votos desfalecia no desejo de os quebrar. E em redor dele sentia iguais rebeliões da natureza: os estudos, os jejuns, as penitências podiam domar o corpo, dar-lhe hábitos maquinais, mas dentro os desejos moviam-se silenciosamente, como num ninho de serpentes imperturbadas.”

“Era, no entanto, devoto: rezava, tinha fé ilimitada em certos santos, um terror angustioso de Deus. Mas odiava a clausura do seminário.”

Todos estes sentimentos e a forma como Amaro se tornou padre deixaram marcas nele que aproveitava de muita inteligência e dominação para conseguir e distorcer as coisas a seu favor, principalmente, perante as senhoras daquela cidade e de Amélia.

Falando um pouco de Amélia, uma menina doce, prendada e que via naquele homem tudo de divino, maravilhoso e aos poucos, o amor que sentia foi virando medo, culpa, obsessão e muita depressão pois descobriu-se grávida.

Quando Padre Amaro descobriu que seria pai ficou desesperado porque não podia ter um escândalo na Igreja, afinal, ele vivia as custas dela e se fosse expulso, o que faria?

Aos poucos veremos que o encantamento que tinha por Amélia ia murchando.

Diante deste problema junto com um cônego que tinha um segredo que Padre Amaro descobriu, resolvem o “problema” de uma forma magnifica e muito manipuladora.

Amaro ficava durante muito tempo pensando o porquê não podia servir a Deus e ter sua Ameliazinha de vez em quando e assim viverem em paz?

…levava as suas acusações mais longe, contra o Celibato e a Igreja: por que proibia ela aos seus sacerdotes, homens vivendo entre homens, a satisfação mais natural, que até têm os animais?”

“E quem inventou isso? Um concílio de bispos decrépitos, vindo do fundo dos seus claustros, da paz das suas escolas, mirrados como pergaminhos, inúteis como eunucos! Que sabiam eles da Natureza e das suas tentações?”

“Tudo se ilude e se evita, menos o amor! E, se ele é fatal, por que impediriam então que o padre o sinta, o realize com pureza e com dignidade?”

“Punha-se então a pensar nos três inimigos da alma -MUNDO, DIABO E CARNE.”

Estes eram os pensamentos e dilemas de Amaro quando ficava sozinho em seu quarto com tantos problemas para resolver e o que percebemos é que ele se preocupava pouco com Amélia. Ele queria que ela aceitasse seus planos e pronto! Tudo estaria a salvo e ela na inocência ou ilusão e até mesmo obsessão por ele, aceitava pacificamente.

Após Amélia esconder a gravidez de uma forma triste, muita coisa acontece e o livro vai chegando ao final com uma tragédia, somado ao pensamento mesquinho daquele que representa a Igreja e que jamais imaginaria que o livro fosse assim.

Não só Amaro, mas o cônego que sabia de tudo, agiam com naturalidade porque só interessava dominar as beatas, prazeres da carne e boa vida, desde que ninguém descobrisse e o governo ficasse longe disso. Dinheiro, poder e satisfação pessoal dominavam aqueles homens.

Em vários momentos Amaro questiona Deus:

“Procurava então justificar o seu amor com exemplos dos livros divinos. “

“Queria-lhe o amor, queria-lhe os beijos, queria-lhe a alma…”

Amélia escondida e abandonada começou a sentir culpa, medo do castigo de Deus e apareceram as alucinações.

Chegou a confessar a um certo padre da região que estava escondida, de nome Ferrão seus pecados e este ficou com ela até o fim, diferente de Amaro que após o nascimento da criança e alguns problemas, foge para Lisboa com uma desculpa de que sua irmã estava doente.

Amélia pensava assim:

“Era este poder divino do padre, esta familiaridade com Deus, tanto ou mais que a influência da sua voz – que a faziam crer na promessa que ele lhe repetia sempre: que ser amada por um padre chamaria sobre ela o interesse, a amizade de Deus.”

Em momentos de fatos interessantes da história vários moradores eram contra o poder que a Igreja exercia e a imprensa era a salvação para despejar tudo que sentiam.

“Preparar um padre é criar um monstro que há de passar a sua desgraçada existência numa batalha desesperada contra os dois fatos irresistíveis do universo – a força da Matéria e a força da Razão.”

O livro é muito bom com um final interessante com diálogos sobre a invasão da França por tropas que odiavam Napoleão III e assim Padre Amaro, o cônego Dias e o Conde travam discussões acaloradas que mostram a importância deste livro na literatura.

Apesar de alguns momentos ser cansativo, mostra bem a sociedade da época, a relação da mulher como esposa e beata, o poder da imprensa e do Governo, a mentalidade dos padres, o poder dos Reis e as alianças formadas em busca de paz e satisfação para aqueles que a firmam.

Amélia tem um triste fim, sozinha e desamparada porque nem sua mãe esteve perto ou soube de nada e Amaro? Este age como se a vida fosse assim mesmo dentro dos desígnios de Deus.

Uma dica é ter um dicionário do lado porque tem palavras que precisamos saber o significado para entender o contexto.

Alguém já leu este livro? Gostou? Deixe aqui sua opinião.

Espero que tenham gostado.

Até o próximo comentário.

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