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O sonho de um homem ridículo – Dostoiévski

Gosto da literatura russa e os livros de Dostoiévski sempre chocam e agregam em alguma coisa.

Este livro é tão a princípio sem “pé nem cabeça” que à medida que fui lendo me apaixonei e simplesmente entendi muito o que o escritor queria passar ou pelo menos, tentar.

A todo instante parecia que Dostoiévski ria da nossa cara e testava a nossa inteligência, além de zombar de Deus e da Igreja, porém em certos momentos acreditava Nele e se agarrava nessa fé, diante da vontade de tirar a sua própria vida. Digamos que essa fé o impedia de cometer tal ato.

Por isso se achava ridículo e o título é muito relacionado com o contexto e oscila entre realidade e o imaginário ou o sonho.

Quando ele contava as pessoas, as mesmas riam dele e comentavam sobre sua loucura que não existia, a sua vontade era ter outras experiências que não estava aqui no agora.

Em muitos momentos ele tinha pena daquelas que não entendiam suas perguntas e toda hora buscava resposta para o amor, a felicidade, a vida e a morte.

Vida em outros planetas e o melhor do ser humano era muito questionado e ninguém sabia lhe dizer a verdade, mas ele encontrava em outras dimensões, mundos melhores e pessoas inteligentes e avançadas para a sua época.

Esta história foi escrita em 1877, após o período de trabalhos forçados na Sibéria, essa é uma obra-chave para a literatura de Dostoiévski.

Essa curta narrativa fantástica condensa grandes obsessões que atravessam toda o trabalho do autor, sobretudo a oposição entre sentimento e razão, e a contestação à visão científica de mundo, que ele considera autodestrutiva para a humanidade.”

Esta edição foi traduzida diretamente do russo por Lucas Simone, conta com ilustrações de Helena Obersteiner e apresentação do neurocientista e especialista em sonhos Sidarta Ribeiro.

Nos posfácios, Cecília Rosas, doutora em Literatura Russa pela USP, tece um panorama literário do conto, e Flávio Vassoler, doutor em Letras pela USP e especialista em Dostoiévski, aprofunda as questões existenciais e religiosas tão flagrantes na obra.

Celso Frateschi, diretor de teatro e protagonista do monólogo “O sonho de um homem ridículo”, tece um ensaio baseado em sua vivência na pele do personagem, e Helena Obersteiner escreve sobre sua experiência ilustrando a jornada cósmica do autor russo.

É muito interessante porque você vê a visão de Dostoiévski e depois a visão de outras pessoas e entende e compara uma com a outra esclarecendo muitos pontos na leitura.

Dostoiévski leva o niilismo do homem ridículo às últimas consequências.”

O tempo todo Dostoiévski usa a palavra niilismo que emprega-se a negação, a redução ao nada, a não existência, por isso seu desejo de morrer e por isso, sempre dormia com o revólver ao lado da sua cama.

Em um de seus tantos sonhos ele terá uma viagem interessante descrita no trecho abaixo:

Tem início, então, uma viagem intergaláctica que levará o personagem a um planeta muito parecido com a Terra – trata-se, como o homem ridículo, pôde descobrir, da mesma estrela que brilhara no céu, na noite anterior, bem no momento em que ele decidira se matar.”

Muitas vezes, em seus sonhos, após ser resgatado de sua morte, o personagem desperta com a mensagem “Ama o próximo como a ti mesmo”, mas como acreditar nesta frase se para ele Deus não existe?

Veremos muito durante a leitura a ausência de fronteiras a separar sonho e realidade. Ele afasta Deus da própria vida e se vê apartado do mundo e de seus semelhantes, como ele mesmo dizia “somos apresentados a um progressista russo e petersburguês sórdido.”

Enfim, um livro interessantíssimo onde vários personagens de outras histórias de Dostoiévski estão presentes que vale a pena ler e entender um pouco mais deste escritor polêmico, mas ao mesmo tempo contemporâneo para a sua época.

Tem 241 páginas, preço muito bom para formato digital e caro para formato físico com uma capa confusa assim como seus pensamentos em vários momentos de seus sonhos ou alucinações, mas você também encontra no mercado outras capas e versões.

Espero que tenham gostado.

Até o próximo comentário.

Podcast O sonho so homem ridículo
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