Uma Confissão – Liév Tostói
Um livro interessante onde a busca pelo que representa a vida e a fé estão marcadas em cada página que o autor escreveu e sentiu.
Uma Confissão foi escrito em 1879, época em que Tolstói residia na grande propriedade rural de sua família, Iásnaia Poliana, nos arredores da cidade de Tula, Rússia.
Ele tinha na época 51 anos.
Aos poucos, Tolstói mostra sua vontade de morrer e como prepara tudo em seu quarto para tal atitude, pois não está preparado para viver onde não entende o que é a vida e a fé.
São muitos questionamentos que naquele momento não fazem nenhum sentido para ele.
Hoje, como antigamente, a aceitação e a confissão declaradas da fé ortodoxa se encontram, na maior parte, em pessoas estúpidas, cruéis, imorais, que se julgam muito importantes. Já a inteligência, a honestidade, a retidão, a generosidade e a moral se encontram, na maior parte, em pessoas que se deixaram sem fé.
Casado, com filhos, Tolstói não encontra razão para as coisas, a religião, a Igreja e principalmente Deus.
Questiona o ser humano que é hipócrita pois é temente a algo ou alguém, porém comete barbáries horríveis somente com um objetivo.
Onde estaria Deus naquele momento? Qual a importância da Igreja?
Por que viver assim sem sentir que você faz parte deste mundo? Onde está a lógica disto?
Diante de tantas perguntas sem respostas, somente o suicídio aliviaria a angústia e traria respostas.
Apesar de um tema pesado como o suicídio a leitura não é pesada, pelo contrário, é bem interessante e perspicaz.
Percebendo que está encurralado emocionalmente sai em busca de respostas com pessoas que tinham cultura ou inteligência, mas a resposta era sempre a mesma que ele conhecia desde que se entendeu por gente.
Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, sem comer, sem beber, sem dormir: mas não existia vida, porque não existiam desejos cuja satisfação eu considerava razoável.”
A verdade era que a vida não tem sentido algum. Parecia que eu tinha vivido e andado para lá e para cá, até chegar à beira de um abismo, e via com clareza que não havia nada na minha frente, a não ser ruína.”
Ele fala por várias vezes que a vida o enjoava e ao mesmo tempo era impedido de se matar por alguma força que ele não entendia.
A ideia do suicídio me veio de maneira tão natural quanto, antes, me vinham os pensamentos sobre o aperfeiçoamento da vida. Essa ideia era tão sedutora que tive de usar de astúcia contra mim mesmo, a fim de não colocá-la em prática com demasiada pressa.”
Em nenhum momento ele fala que a família o ajudou, pelo contrário, pelo que entendi a família não percebia o que estava acontecendo.
Ele tinha medo da vida e do que queria e a solução seria acabar com tudo, porém ainda esperava alguma coisa.
Tinha aquilo que sempre quis, como esposa, filhos, dinheiro. Era respeitado, mas faltava algo. Tudo era uma ilusão no seu ponto de vista.
O que vai ser daquilo que vou fazer amanhã – o que vai ser de toda a minha vida?”
Assim, Tolstói questionava e concordo que em alguns momentos talvez, cada um de nós, já se questionou sobre a vida e o seu significado.
Será que aquilo que fazemos faz sentido? É o certo? Existe o errado?
Só que ao mesmo tempo que Tostói questiona e vai em busca de respostas, algo muda dentro dele, apesar de estar tudo fora do lugar, mas para entender o sentido da vida ele deveria renunciar a razão.
A fé aparece aos poucos e ele percebe que ela é o sentido da vida humana. A fé é a força da vida e o homem não se destrói e vive, e assim o homem acredita em alguma coisa.
Para compreender a vida ele precisava ter fé e ver sentido em tudo e se aproximar de Deus e neste momento, Tolstói começa a entrar no campo da religião.
Um belo dia diante de tantos questionamentos, mas sabendo que algo estava prestes a mudar, um sentimento dentro dele brotou.
Conhecer Deus e viver é a mesma coisa. Deus é vida. Viva descobrindo Deus e, então, não haverá vida sem Deus.”
Tudo dentro dele foi muito forte, se iluminou e uma luz não o abandonou e assim se salvou do suicídio.
Assim, a força da vida recrudescia dentro de mim, e, de novo, comecei a viver.”
A partir deste momento, motivado, começa a questionar a Igreja Ortodoxa e seus ensinamentos. Ele fazia tudo: rezava, jejuava, ia às missas, mas qual o sentido disso?
Percebia que as pessoas pregavam uma coisa e faziam tudo diferente.
Ele não queria ser e viver assim: o atrito com as regras começavam.
O que era a fé?
Assim, quase no final do livro teremos uma aula sobre religião e a importância da Igreja Ortodoxa na vida dele e de todos da Rússia.
Confesso que seus questionamentos são os meus e fizeram parte da minha vida em algum momento, e sem imaginarmos, estamos diante de páginas inteligentes e reais.
O verdadeiro corpo e sangue de Cristo, aquilo me feriu até o coração; não era apenas uma nota falsa, era uma exigência cruel feita por alguém que, obviamente, nunca soubera o que é a fé.”
Um livro polêmico, questionador, mas tão bem escrito e pautado que é fantástico a sua leitura.
Apesar de querer morrer, Tolstói mostra uma outra faceta da vida, rompe com a Igreja e procura em outra religiões o sentido do que é Deus.
Nada foge do contexto e no final nos surpreendemos com toda a reviravolta em sua essência como ser humano e a sua participação neste Universo.
Muito bom, valeu a pena cada parágrafo lido e olha que tem só 128 páginas de excelente conteúdo com preço ótimo para livro digital e físico.
Forte, impactante e cheio de respostas que farão você também questionar sobre muita coisa.
Espero que tenham gostado.
Até o próximo comentário.