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Angústia – Graciliano Ramos

Ainda não tinha lido nenhum livro de Graciliano e este tive várias sensações ao mesmo tempo.

Graciliano Ramos foi um romancista, cronista, jornalista e político brasileiro. Nascido em Alagoas, no final do século XIX, o autor da segunda geração do Modernismo brasileiro construiu, a partir da fase social literária, obras que criticavam e analisavam os regionalismos do Nordeste.

Famoso por escrever “Vidas Secas”, romance em que retrata a vida itinerante de uma família com poucas condições sociais, que buscavam melhoria de vida, também foi escritor de textos cotidianos, mas carregados de ampla reflexão, de modo a tocar o íntimo do indivíduo – leitor.

Não somente, também escreveu “São Bernardo”, além de “Memórias de um Cárcere”, obra autobiográfica.

O livro é narrado por Luís, um rapaz que conta sua infância numa cidade próxima de Alagoas, sem grandes expectativas onde a morte de seu pai, talvez, desencadeou emoções que afetaram seu futuro.

Estava espantado, imaginando a vida que ia suportar, sozinho neste mundo. Sentia frio e pena de mim mesmo. A casa era dos outros, o defunto era dos outros. Eu estava ali como um bichinho abandonado, encolhido na prensa que apodrecia.”

Ele dá detalhes de sua vida contando o que lhe convém, contudo, já percebemos perturbações naquele garoto e o que a sua vida se transformaria.

Com algumas palavras diferentes, bem ao estilo nordestino temos que consultar algumas vezes o dicionário para entender o contexto e entrar na cultura.

Tudo é escrito de uma maneira a nos transportar até a cidade que está Luís que neste momento, já é um rapaz de 35 anos, funcionário público vivendo de maneira miserável e achando que era feliz.

Sou tímido: quando me vejo diante de senhoras, emburro, digo besteiras. Trinta e cinco anos, funcionário público, homem de ocupações marcadas pelo regulamento. O Estado não me paga para eu olhar as pernas das garotas. E aquilo era uma garota. Além de tudo sei que sou feio. Perfeitamente, tenho espelho em casa. Os olhos baços, a boca muito grande, o nariz grosso.”

Poucos amigos, nos aproximamos de Luís que em certo momento precisa de uma mulher para terminar a sua vida e assim conhece Marina e se apaixona imediatamente.

A partir deste fato, relata como este sentimento cresce e parece que estamos vendo Marina na nossa frente com a riqueza de detalhes e sentimentos.

Sim, porque Graciliano transmite para o papel todo o sentimento de Luís durante a sua vida e vamos nos sentindo angustiados com tanto sofrimento e expectativas de uma vida melhor.

Naturalmente gastei meses construindo esta Marina que vive dentro de mim, que é diferente da outra, mas se confunde com ela. Antes de eu conhecer a mocinha dos cabelos de fogo, ela me aparecia dividida numa grande quantidade de pedaços de mulher, e às vezes os pedaços não se combinavam bem, davam-se a impressão de que a vizinha estava desconjuntada. “

Ele se apaixona tanto que em certo momento muda suas roupas e compra tudo que Marina quer e não aguentando mais esperar tanto tempo, finalmente faz o pedido de casamento.

Feliz com esta decisão não imaginava que um belo dia fosse trocado por Julião, um rapaz mulherengo e rico. Claro, que isso acontece aos poucos e só lendo o livro para saber como acontece este fato.

A partir disto, Luís desenvolve uma obsessão por Marina a seguindo por todo canto, assim como a fixação por matar Julião.

As cenas do assassinato de Julião são descritas em sua cabeça de forma detalhada e a culpa que carrega sem nem ter praticado ainda nos deixa angustiados, se assim posso descrever.

O livro vai te envolvendo de tal maneira que as vezes pensava em desistir da leitura de tão pesado que era, mas quando virava a página Luís descrevia outra cena e então não tinha como largar, já estava sedenta por mais leitura.

O final é muito inusitado nos deixando com a sensação de loucura, alucinação e uma verdadeira forma de amor diferente descrita por ele.

Luís em seus devaneios, imaginou uma Marina, amou uma Marina, odiou uma Marina e a “matou” e assim foi com Julião que tanto planejou e o assassinou já cheio com seus delírios e rancor. Talvez, Luís fizesse o mesmo com outros que passassem pelo seu caminho.

Bom livro que vale a pena ler para conhecer outra maneira de literatura com personagens fortes, diferentes e eu diria atemporais.

Preço muito bom para livro digital e físico, capa que reflete bem nosso personagem amargurado, louco, culpado, que não suportava a ideia da perda da mulher amada e assim o enredo vai te agarrando e você não larga mais.

Até o próximo comentário.

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