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Apenas três palavras – Eduardo Baccarin-Costa

Mais um livro que chegou por indicação e que me deixou feliz e surpresa pois jamais imaginaria que sua história envolveria futebol, ditadura e um lindo caso de amor.

Eduardo é professor de Literatura e Língua Portuguesa, é Mestre e Doutorando em Letras pela UEL (PR), escritor, poeta, produtor cultural, tem seis livros publicados, oito peças escritas e algumas letras de canções. Venceu prêmios e por isso ama tudo que faz.

Assim, vamos ao seu livro.

Estamos falando do ano de 1970. Copa do mundo e uma ditadura.

Celso, um jovem estudioso que tinha alguns ideais e amigos que pensavam diferente para um Brasil que naquela época, era governado por militares sob um regime hipócrita e ditatorial.

Num dia de jogo numa hora errada e num local mais errado ainda foi levado pela polícia e viveu a partir daquele momento os piores de sua vida mudando o rumo para sempre de um destino que tinha tudo para ser completamente diferente.

Um povo que lê é um povo que não é marionete do governo, repetia animado nas reuniões do grupo.”

“Naquela época, pensar era transgressão grave. Pensar diferente do governo era crime condenável, muitas vezes, com a morte.”

Você sabe o que foi a ditadura? O que significou para muitas famílias? Famílias que até hoje não sabem onde estão os corpos de seus filhos, maridos ou parentes.

Se não sabem, procurem saber antes de idolatrarem alguém que despeja palavras ou tem atitudes sem fundamento. Busquem informações, saiam de suas caixinhas.

Celso pensava diferente e queria os militares fora do poder, mas nada com violência, apenas com seus direitos válidos.

Na faculdade com seus amigos estava estudando e aprendendo algumas coisas, não tinha filiação partidária e caiu naquela cadeia e viu o inferno de perto.

Apanhou muito e viu sua amiga sofrendo violência de todos os tipos na sua frente.

Os militares queriam os nomes dos incitadores, mas ele não sabia e quem sabia, jamais entregaria. Não tinham direito a um telefonema e sua família não sabia de nada.

Sofreu fome, violência, até que saiu da “solitária” e junto com Paulinho, Fernanda e Mário seriam transferidos para algum lugar. Só que eles sabiam que a morte os esperavam.

Entendia, naquele momento, como funcionava – de verdade – as coisas nos corredores da delegacia: carcereiros eram, de fato, os donos do lugar. Eles é quem faziam as regras.”

Eles sabiam que iam morrer e já imaginavam que seus corpos seriam jogados em alguma vala.

O Brasil estava jogando nesta época e por dias eles ouviam na cadeia os policiais comemorando. Se o Brasil ganhasse, sem violência, se o Brasil perdesse, violência na certa, principalmente contra as mulheres.

Os jogos do Brasil serviam para distraírem a população de um Brasil entregue as ruínas.

Num país no qual a leitura era um crime quase hediondo como o pensar, alienar-se diante de futebol e novelas na frente da TV havia se tornado o passatempo preferido da maioria esmagadora da população, devidamente alimentado e estimulado pelo governo.

O excesso de álcool consumido durante as partidas liberava uma libido ainda mais perversa e isso acabava se constituindo num estímulo para que as violências sexuais em busca da informação preciosa acontecessem.

A ideia de um estupro coletivo parecia inevitável.”

Finalmente o dia chegou. No caminho do tal local, uma emboscada e Celso saiu do carro e só tinha um destino: seguir com este pessoal, afinal, se voltasse para casa e tentasse provar sua inocência, seria morto.

Fugiram e foram parar em Recife. Ele e Mário. Os outros foram para outro local.

Todos ainda tinham esperança de ver o Brasil voltar a ser uma democracia.”

A partir deste fato a vida de Celso muda radicalmente.

Fugindo dos militares viverá no interior do Pernambuco onde a seca e a fome reinam nesta época. Ele e o amigo, com a ajuda de Dom Hélder Câmara mudarão de nome e entrarão no Programa do Mobral e ensinarão as pessoas a lerem e escreverem.

No começo será bem difícil pois as pessoas precisam de comida e água e não de palavras. Porém, nesta cidadezinha esquecida pelos governantes, Celso conhecerá uma mocinha de 15 anos, Clarinha, apelidada de Lindinha e nascerá um lindo amor impossível.

Ela, inteligente, com fome de aprender e ganhar o mundo para ajudar as mulheres e seu povo. Ele, fugindo dos militares, doido para ajudar o país.

Eles só não contavam que o irmão dela não gostou de Celso e fará de tudo para atrapalhar.

Para viverem um romance proibido, afinal ela era menor, criam uma caixa postal e começam a se corresponderem com apenas três palavras.

Algum tempo depois já com várias pessoas letradas, Celso é encontrado e preso.

O irmão de Lindinha o denunciou e ele sofre novamente todo o tipo de tortura. Seu amigo Mário, naquela época, tinha ido embora da cidade e estava morto.

Após longas batidas em sua cabeça perdeu a memória e muito mal, foi jogado no lixo pelos militares.

Acordou e sem saber para onde ir, vive alguns dias perambulando pelas ruas sem lembrar nem seu nome. Lembrava apenas de uma caixa postal.

Já era 1974 e viveu assim até 1978. Fez bicos, morava em pensões, albergues, ou dormia em praças e portas de igrejas, quando não tinha dinheiro.

Muita coisa acontece com Celso que nesta altura tinha outro nome e num belo dia, encontra um amigo daquela época: Paulino, já pastor, que o ajuda a se reencontrar e conta a sua história e seu verdadeiro nome.

Até agora você se emociona demais com o livro porque tem uma mistura de raiva, medo, choro e tristeza.

Celso sofreu muito e consegue aos poucos se lembrar de algumas coisas e inclusive, vai visitar sua família que fazia muitos anos que não os via. Paulino foi essencial nesta fase de sua vida e recuperação de parte de sua memória.

João Figueiredo anunciando a anistia ampla geral e irrestrita. Todos os exilados políticos poderiam voltar para casa depois de anos vivendo, à força, fora do país. Os pouquíssimos presos seriam soltos.”

Celso continuou seus estudos, se formou em Direito, ganhou dinheiro, comprou uma casa e ajudou aqueles que precisavam. Tornou-se Deputado Federal.

Concentrou suas forças na vã tentativa de não deixar Jair Bolsonaro virar presidente. Sabia o que poderia advir dali. Os discursos do então candidato ecoavam, traziam à vida ideais de opressão, exclusão, mentiras, preconceito e censura.”

Um homem que após vinte e oito anos no Congresso Nacional tinha uma herança de apenas dois projetos apresentados e suspeitas graves de enriquecimento ilícito pessoal e familiar, agora havia se tornado paladino da probidade e da competência administrativa.”

Celso lutava nesta época com uma força interior que eram dores fortes de cabeça, esquecimento e saber por onde andava a sua Lindinha.

Já chegando no final fortes emoções acontecem e nos emocionamos com lindas cenas, reencontros, perdões e finalmente descobriremos as famosas três palavras que cheguei perto de descobrir, porém não acertei.

Um livro forte que mostra uma época que meus pais viveram e pouco comentam.

Uma época difícil que muitos preferem esquecer e que infelizmente, muitos ainda desejam novamente.

Triste e doído, porém o escritor soube transformar em algo maravilhoso de ler com personagens encantadores e transformadores.

Leiam e abram a mente, reflitam sobre o que vocês desejam para o futuro. Respeitem as opiniões e as pessoas.

Amem o próximo, aceitem as pessoas como são, só assim seremos uma nação e um mundo melhor.

O livro tem uma capa apropriada para a história, preço muito bom para livro digital e físico e 156 páginas.

A Ditadura, a “necessidade” de eliminar a “praga” comunista e manter a boa família católica e tradicional brasileira haviam completamente negado a possibilidade de Celso e Lindinha viverem uma história de amor, como a de todo e qualquer jovem.”

DITADURA NUNCA MAIS.

Até o próximo comentário.

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