Guerra e Paz – Leon Tolstói
Hoje o comentário é bem longo pois o livro requer esse espaço e dedicação. Aliás este livro estava dentro das minhas metas de vida e consegui!
Gosto da Rússia e sua história por considerar um país misterioso e ao mesmo tempo avançado dentro da sua cultura.
Quando li Catarina a Grande (link no final do comentário) viajamos por sua força e coragem por liderar um país até então governado por homens e entendemos a sua força e riqueza, mas lógico com perdas enormes com muitas guerras. Mas fascinante por todo o contexto histórico.
Meu contato com o escritor se deu através do filho da minha amiga de 8 anos (na época) que após assistir ao filme do Snoopy quis ler esse livro e leu! Soube que adorou e discutiu com a mãe sobre Napoleão e Alexandre as guerras e os conflitos da sociedade russa. Ele me desafiou a leitura e quando vi a oportunidade de baixa-lo não deixei escapar.
Antes de continuar o comentário, vi um pedaço do filme onde Charlie Brown deixa os amigos para ler esse livro e vê uma conexão da Rússia toda a sua história. Fantástico e entendi o fascínio do filho da minha amiga.
Desafio aceito fui em busca de suas 1465 páginas com preço bem caro para livro físico.
Ler Tolstói é entrar no mundo de observações, alucinações, realidades e especulações de uma Rússia e todo o seu contexto histórico e da sociedade.
A leitura traduzida foi fantástica com poucas notas de rodapé e personagens reais e fictícios que pensavam em sexo, guerra e morte.
Ele é intitulado como romance, mas não pense em encontrar isso, pelo contrário até tem isso, mas tem guerra, estratégias, lutas sangrentas e muito soldado dando a vida por sua nação.
“Guerra e paz” é um dos romances mais importantes da literatura universal.
Antes de mais nada foi isso que encontrei na sinopse.
Compreendendo o período de 1805 a 1820, esta obra grandiosa – resultado de exaustiva pesquisa de Leon Tolstói – nos dá detalhes da vida na Rússia antes e durante a invasão napoleônica. Entremeando os dramas pessoais dos personagens com a rotina mundana da aristocracia, e, ainda, com a narrativa de batalhas, Tolstói cria uma série de afrescos épicos, cenário nos revela com rara perspicácia uma Rússia imponente por sua história e suas grandes personalidades, mas guiada fundamentalmente por seu povo.
Alguns personagens fazem parte de enredo como:
– Pierre – filho bastardo de um conde absorve toda a herança do pai e toma conta dos negócios atém de viajar pelos campos da Filosofia e Psicologia, entrando para a maçonaria, uma das passagens mais importantes do livro. Vimos como foi sua admissão e os “sacrifícios” ou crenças ditadas pela Ordem, nas quais Pierre absorveu, mas muitas vezes questionou.
Em vários momentos, pensou muito no que seria Deus e toda a sua vida, a humanidade e as guerras e sofrimentos das pessoas mais carentes. Casa-se com uma mulher forte, mas o casamento é apenas de aparência pois seu verdadeiro amor é Natasha só se concretizando quase no final do livro, com um final bem apropriado.
– Ana Pavlovna – uma mulher da sociedade que reunia em sua casa várias pessoas importantes da sociedade russa falando de coisas superficiais e arrumando casamentos àqueles que lhe interessavam. Mulher forte e presente no livro em várias situações.
Temos também Natasha, príncipe André, o núcleo da família Rostov além dos ilustres Napoleão e Alexandre I.
O livro começa com a guerra declarada de Napoleão à Rússia. Vimos um Napoleão estrategista, focado, líder, forte com um exército enorme com muita coerência naquilo que queria e fazia. Os franceses eram muito fortes, mas odiados pelos russos. A guerra era iminente e muitas mortes já aconteciam nessa época e Napoleão queria conquistar Prússia, Moscou e todas as cidades da Rússia.
Por outro lado, o neto de Catarina, Alexandre I me pareceu muito pasmo, quieto, que deixava a Rússia nas mãos de seus generais que nem sempre faziam aquilo que era necessário. Nesse sentido, os homens recrutados não importava a idade, tinham um patriotismo espetacular por sua nação e um amor pelo seu Imperador. Alexandre I parava tudo onde passava, tal qual era o fascínio dos russos por ele.
Quando a guerra já estava em vantagem para a França, Alexandre resolve selar a paz com Napoleão e anotei uma passagem bem interessante:
Alexandre tratava Napoleão de igual para igual e este mostrava-se muito à vontade como imperador russo, como se essa proximidade lhe fosse natural e familiar.
Isso até se perpetuou por um bom tempo, mas Napoleão queria mais e invadiu terras russas, inclusive invadindo Moscou, matando vários soldados dos dois lados, mas saiu de fininho, dando a entender o seu abandono a guerra e Alexandre voltando a pátria mãe.
Tolstói fala muito da importância histórica de Napoleão deixando bem sutil a passagem de Alexandre. Em vários momentos, ele mostra como os historiadores contam essa passagem da guerra, discordando em vários pontos e mostrando como é a guerra porém falando de uma Rússia forte e rica.
Na verdade percebemos um Rússia recheada de grandes condes, fazendeiros que exploravam os camponeses que ficavam cada vez mais pobres.
Em várias discussões políticas percebemos a inteligência dos franceses e russos como na definição do que é a arte militar.
A arte militar é ser, em dado momento, mais forte que o inimigo.
E assim navegamos por uma guerra sem fim, mas questionamentos sobre o que é a guerra, como se consegue a paz, a religiosidade, o patriotismo, uma comparação de grandes líderes nos tempos dessa guerra. Além de ter grandes pensadores, filósofos e todas as questões sobre o humanismo e a nova sociedade se formando numa Rússia devastada pela guerra e com novos líderes completamente alucinados por poder e dinheiro.
Muito complexo o assunto e interessante, pesado e em certos momentos chato, mas necessário para estarmos num campo de guerra onde o que importa é vencer e não as vidas que lá estão. Essa guerra matou mais de 600 mil pessoas e deixou marcas profundas naqueles que sobreviveram e reconstruíram uma Rússia melhor.
O fim de Napoleão é falado, inclusive citado seu estado emocional e como o grande líder, temido por várias nações, morreu sozinho, esquecido e procurado como bandido.
Além das passagens de uma guerra sangrenta, a caça na época chegava na casa dos grandes Condes e foi contado em detalhes, por exemplo como Nicolau Rostov caçou uma loba e trouxe a coitada viva e pendurada por um pau a fim de mostrar e comemorar a sua glória. Nossa, triste!
Romances existiram? Claro, afinal casamentos arranjados aconteciam para manter a aristocracia.
Pierre casa com Helena uma mulher inteligente, linda, que tem o poder de dominar os homens, mas sem contexto sexual, pelo menos não ficou implícito no livro. Helena morre de uma doença deixando Pierre livre para conhecer o amor nos braços de Natasha.
Natasha é uma condessinha perspicaz, astuta e adolescente. É prometida ao príncipe André que perde sua primeira mulher no parto. Mas após um ano de ausência do príncipe, Natasha quase foge com um soldado de uma família poderosa e mancha seu nome. Sozinha, não fica com ninguém, entretanto quis o destino que André aparecesse após ser ferido por uma granada e ela cuida dele até a morte.
Muito depois, em busca do amor, se entrega e casa com Pierre e juntos vivem seus dias de glória.
A princesa Maria, uma personagem machucada pelo pai que sempre a humilhava, irmã de André, religiosa que mostra a religião e o amor ao próximo de uma forma diferente, cria sozinha o filho de André e depois de muitos anos encontra o amor nos braços de Nicolau Rostov. Nicolau subiu de patentes no exército, mas abandonou a carreira para casar-se com Maria que era rica e assim pagou as dívidas que seu falecido pai deixou. Vira um fazendeiro feliz que defenderá a Rússia sempre que seu imperador pedir, mesmo que não concorde com os pensamentos do governante, afinal ele fez um juramento.
Outros personagens são bem interessantes, mas não vi traços negativos no livro, só algumas passagens mais cansativas quando Tolstói questiona os fatos históricos e seus líderes.
Um livro que precisa ser lido com cuidado para entender os fatos e saber que a Rússia é ou foi um celeiro de líderes e força, que mesmo diante da invasão da França, seus soldados devastados, cansados, em menor número que os franceses, famintos, não deixaram de lutar pela sua nação.
Foi incrível a leitura e recomendo se você gosta de história, quer entender as guerras e seus líderes e como se inicia o que muitas vezes não tem momento para acabar.
Questionamos em vários momentos assim como Tolstói onde está a paz? Como chegamos a paz? Passamos por cima do nosso orgulho? O que um grande líder dirá ao seu povo sobre a derrota? Sobre as mortes? Sobre as famílias que perdem seus parentes?
Tolstói nos mostra a guerra sangrenta, um mal às relações humanas e o impacto ao povo russo.
É muito intenso descrever em poucas palavras o livro, mas espero ter comentado fatos que ficaram guardados na minha mente e encerro o comentário com o célebre Tolstói.
O objetivo do artista não é o de resolver problemas, mas fazer com que o leitor ame a vida em suas inúmeras e inesgotáveis manifestações. Se me dissessem que eu poderia escrever um romance que, de uma vez por todas, oferecesse a solução incontestável para todas as questões sociais, não dedicaria nem duas horas a isso. Mas se me dissessem que o livro que eu escrevo seria lido pelos meus contemporâneos e que as crianças daqui a 20 anos ainda se emocionariam com ele e chorariam, ririam e amariam a vida, eu dedicaria toda a minha vida e toda a minha força a tal trabalho.
Até o próximo comentário.
Link do livro Catarina, a Grande.
Catarina, A Grande: Retrato de uma mulher – Robert K. Massie
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